Economia

Melhores cidades para abrir empresa

Índice de Ambiente de Negócios mapeia, em oito áreas, forças e fraquezas dos municípios capixabas para atração de empresas

Foto:Marcelo Prest
Vista aérea de Vitória

Na hora de decidir onde abrir uma empresa, vários fatores pesam para o empreendedor. É a combinação de elementos como um bom ambiente regulatório, infraestrutura e disponibilidade de capital humano que vai determinar se aquela companhia terá custos maiores ou menores e, consequentemente, produtos mais competitivos ou não.

Levando em consideração oito indicadores, o Anuário Espírito Santo construiu o Índice de Ambiente de Negócios dos municípios capixabas, um esforço para mapear e diagnosticar as qualidades e fraquezas das cidades com relação ao ambiente de negócios. Foram avaliados os seguintes quesitos nos municípios: a infraestrutura implantada, o nível de segurança, o potencial de seu mercado, a facilidade de acesso a capital financeiro, as iniciativas e o incentivo à inovação, o capital humano qualificado disponível, a quantidade de empresas abertas e o tempo necessário para isso (o ambiente regulatório) e o acesso à saúde. Ao todo, foram usados 25 dados abertos e outros levantados pela reportagem.

Na combinação dos fatores, a capital do Estado, Vitória, ficou com primeiro lugar e foi considerada a melhor cidade para empreender no território capixaba. Em segundo, está Alfredo Chaves; depois vêm Colatina, Itarana, Iconha e Vila Velha.

Todos os oito aspectos são importantes para a criação de um bom ambiente de negócios, e um bom nível de eficácia em cada um deles gera um ambiente dinâmico para o empreendedor, afirma o diretor de Competitividade do Movimento Empresarial Espírito Santo em Ação, Nailson Dalla Bernardina.

Quando algo acontece, como a paralisação dos caminhoneiros, a crise na segurança ou questões relacionadas à falta de conectividade (internet) e energia, percebemos o impacto imediato nos negócios e na vida das pessoas. Deficiências de infraestrutura, segurança, saúde, entre outros, impactam negativamente o ambiente de negócios, tornam as operações mais caras para as empresas e, consequentemente, para os consumidores, reduzindo a competitividade de nossas organizações.
Nailson Dalla Bernardina, diretor de Competitividade do ES em Ação

 No geral, aponta Bernardina, a complexidade regulatória brasileira reduz o interesse em empreender. “São muitas horas e recursos despendidos para atender a uma legislação, em muitos casos, ultrapassada. A falta de capital humano qualificado também dificulta, pois alunos saem da escola com déficit de aprendizagem, diminuindo a produtividade dos negócios e a capacidade de inovar das empresas. O acesso e o custo do capital são outros entraves no Brasil, o mercado financeiro tradicional entrega ganhos financeiros que, em média, são superiores a muitas margens de empreendimentos, afastando o capital das atividades produtivas”, analisa.

O presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Leo de Castro, concorda que o ambiente regulatório no Brasil tem muito a evoluir.

Somos um país que tributa investimentos e exportações, indo na contramão do resto do mundo. Gastamos mais de 2 mil horas de trabalho por ano somente para pagar tributos, fora a insegurança jurídica causada pela alteração constante via liminares, decretos e subjetividades da lei. É preciso realizar uma série de reformas no país, todas com um único objetivo: simplificação.
Léo de Castro, presidente da Findes

No Espírito Santo, Castro observa que o mercado é um ponto fraco por questões demográficas. Mas a posição geográfica do Estado, diz ele, compensa essa dificuldade, já que estamos a um raio de mil quilômetros de 50% do PIB brasileiro e em uma posição geográfica favorável para a exportação.

O acesso ao capital, analisa o presidente da Findes, é outro dificultador e um problema sério enfrentado pelas indústrias. “Nem mesmo a menor taxa Selic da história (6,5%) causou impacto no spread bancário médio, atualmente em 20,4%. Esse custo alto para tomada de crédito prejudica o capital de giro”, afirma.

Na indústria, a inovação é essencial para gerar produtos mais competitivos. O Espírito Santo é o 14º colocado no pilar Inovação do ranking nacional medido pela The Economist, mas ainda faltam investimentos em pesquisa e desenvolvimento e alinhamento entre os atores de inovação do Estado, diz Castro.

“Este problema estamos resolvendo com a Mobilização Capixaba pela Inovação, lançada recentemente. Com um fundo de R$ 80 milhões para financiar projetos inovadores, a MCI vai aproximar empresas, academia e setor público. Nossa proposta é a criação de uma pauta conjunta para inovações que tragam competitividade e produtividade, gerando notas fiscais no final do dia”, salienta.

Sobre a formação de capital humano, tão importante para a indústria, Leo de Castro explica que a Federação está implantando o ensino maker (introduzir o aluno na prática) e bilíngue no Sesi, e criando cursos de mecatrônica e Big Data no Senai, atentos à chegada da indústria 4.0. “Também implantamos programas como o ES Mais Produtivo, que traz o lean manufacturing (manufatura enxuta) para as indústrias, gerando ganhos de produtividade de 100% com investimento recuperado em uma semana. Estamos melhorando a formação da infância à educação executiva”.

Já na área do comércio, a burocracia é o que mais atrapalha o empreendedor, explica o presidente da Federação do Comércio do Estado (Fecomércio), José Lino Sepulcri.

Empreender no Brasil hoje é uma tarefa complexa. É um país altamente burocrático, principalmente para o microempresário. São exigidos inúmeros documentos, registros, que demandam um tempo muito grande para conseguir. Os impostos também são um problema grave, temos uma legislação tributária complicada.
José Lino Sepulcri, presidente da Fecomércio

O acesso e o custo do crédito, diz Sepulcri, são outros entraves para o empresário no Estado e no país. “A maioria dos micro e pequenos empresários que carece de crédito não sabe como obter uma linha com juros baixos. Para a população comprar, as taxas também são desanimadoras”.

Outro grande desafio no setor é a segurança pública. “Após a greve dos policiais militares, muitos estabelecimentos não tiveram nem condição de sobreviver, foram assaltados, tiveram as mercadorias roubadas, as instalações danificadas e acabaram fechando as portas. A nível estadual, temos cerca de 300 situações de roubos e furtos por dia, além dos roubos de carga”, comenta Sepulcri.

Embora não afete tão diretamente os pequenas empresas, a infraestrutura logística ainda é um empecilho para a expansão de negócios no Espírito Santo, avalia o superintendente do Sebrae-ES, José Eugênio Vieira.

Ele ressalta que, para o avanço da economia capixaba, de forma geral, são necessárias melhorias não só nas estradas, como também nas ferrovias, portos e aeroportos.

Sem infraestrutura, não é possível realizar qualquer atividade com qualidade, menos ainda pensar em expandi-la. Se não houver mercado, não tem negócio. Para prosperar em qualquer atividade, é preciso ter suporte de pessoal qualificado. Segurança pública e segurança jurídica também são fundamentais para que não haja instabilidade no mercado.
José Eugênio Vieira, superintendente do Sebrae-ES

Além disso, diz o superintendente do Sebrae, entre os principais entraves que os pequenos empresários encontram para manter seu negócio vivo estão o excesso de burocracia, dificuldade de mão de obra qualificada, carga tributária elevada, altas taxas de juros e falta de segurança.

“A legislação tem apresentado sinais de melhora e caminha para soluções menos burocratizadas, mas ainda precisa avançar muito. Precisamos de condições que propiciem a atividade empreendedora de forma mais livre”, pontua.

Já para grandes empresas, a infraestrutura é o que mais pesa na hora de escolher o local de instalação do empreendimento, avalia o economista Eduardo Araújo. No caso do Espírito Santo, afirma, há planejamentos estratégicos e logísticos feitos há mais de 10 anos que já identificaram os gargalos e dificuldades do Estado, como a necessidade de melhorias na BR 101, duplicação da BR 262, mais ferrovias e instalação de portos.

“Desde 2006 isso foi identificado e não foi cumprido. Na época, a Futura fez uma projeção de que a economia do Estado, sob aquelas condições de investimento, estaria 50% maior que está hoje. Na minha avaliação, o que explica esse atraso é o Estado ter conseguido avançar muito pouco em infraestrutura”, diz.

A infraestrutura é muito importante, diz ele, por causa da vocação para a logística que o Estado tem. “É um estado pequeno com litoral extenso, que exporta commodities”. Nesse ponto, diz o economista, os desafios são buscar junto ao governo federal, mais ativamente, recursos para o Estado e avançar nas parcerias público-privadas.

O segundo ponto, diz Araújo, é o investimento em educação, ou seja, no capital humano.

Ter pessoas capacitadas é uma ponte para a inovação, para criar novas ideias. O que gera riqueza é o trabalho das pessoas.
Eduardo Araújo, economista

Em relação ao ambiente regulatório, a burocracia da máquina pública precisa ser reduzida, aponta o economista. “A burocracia é muito elevada, fazendo com que a empresa precise ter vários profissionais para cumprir com obrigações acessórias tributárias. Isso reduz a produtividade da empresa”, observa.

ENTENDA COMO O ÍNDICE FOI CONSTRUÍDO

Para construir o Índice de Ambiente de Negócios, o Anuário utilizou um conjunto de 25 dados abertos e outros que precisaram ser levantados pela reportagem. Entre as informações estão PIB, PIB per capita, número de doutores e mestres no mercado de trabalho, acesso à internet, saneamento, crimes contra a vida e o patrimônio, proporção de grandes empresas em relação a pequenas e médias, número de empresas de tecnologia e criativas, abertura e fechamento de empresas, tempo para liberação de alvarás, depósitos em poupança e operações de crédito, volume de recursos públicos aplicados na saúde, percentual dessa despesa em relação à arrecadação, desempenho do ensino, qualificação da mão de obra, entre outros. As informações foram divididas em oito categorias e depois padronizadas. A partir de entrevista com empresários, foi aplicado o peso em cada item que compõe o índice: Infraestrutura (1), Segurança (1), Mercado (1), Acesso a Capital (1,5), Inovação (1,5), Capital Humano (2), Ambiente Regulatório (2) e Saúde (1). Os pontos foram somados, divididos por oito. Depois novamente divididos pelo PIB per capita.


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