Economia

A última chance para o ouro negro

Próxima década é decisiva para o setor, que viverá última janela de oportunidades. Estado tem potencial em mar e terra e corre atrás para recuperar produção perdida

Foto:Divulgação
Plataforma P-58, que opera no Parque das Baleias, em Jubarte, no Litoral Sul do Espírito Santo

A nova era do petróleo chegou e, com ela, desafios e oportunidades para o Espírito Santo, que tem na produção de óleo e gás sua principal atividade industrial e geradora de riqueza da economia local.

Ambos os pontos estão conectados: é preciso superar algumas barreiras para aproveitar o que analistas do mundo todo chamam da “última janela de oportunidades” que o setor terá na próxima década. E o maior deles é dar uma nova guinada na produção.

O Espírito Santo, que chegou a ter a segunda maior produção de petróleo do país – inclusive foi onde se extraiu o primeiro óleo do pré-sal no Brasil –, vive desde 2012 um declínio na produção que vem se acentuando ano após ano. Aliado a isso, as grandes descobertas de petróleo na Bacia de Santos fizeram São Paulo tomar o posto de segundo maior produtor em 2017, empurrando o Estado para terceiro.

Os motivos para esse tombo são muitos: ausências de descobertas de jazidas, pouco investimento em exploração e perfuração, amadurecimento de poços e domínio da Petrobras até sobre campos que nem interessam mais à estatal.

A própria companhia promete mudar esse cenário com investimentos da ordem R$ 16 bilhões no Espírito Santo nos próximos cinco anos, conforme afirmou em abril em Vitória o presidente da empresa, Roberto Castello Branco, com destaque para a instalação prevista para 2022 de um novo navio-plataforma no Litoral Sul capixaba. A informação já tinha sido divulgada com exclusividade em dezembro passado pelo Gazeta Online, com base em dados obtidos pela Lei de Acesso à Informação.

O valor estimado dentro do Plano de Negócios e Gestão (PNG) 2019-2023 tem R$ 6 bilhões a mais do que era projetado no documento anterior. Um dos motivos da alta é a expansão das atividades exploratórias no Estado, segundo a petroleira. Revelação, aliás, relevante para ampliar as atividades produtivas e alavancar a cadeia de fornecedores capixaba.

Cerca de R$ 6 bilhões serão destinados ao projeto denominado Integrado Parque das Baleias, que deve produzir e processar 100 mil barris de óleo diários do pré-sal na porção capixaba da Bacia de Campos. A FPSO (sigla para unidade que produz, armazena e transfere petróleo) será afretada, processo que, de acordo com a Petrobras, está em fase de contratação.

O projeto contempla ainda a interligação de cerca de 25 poços, entre os novos e os outros que já estão em operação no chamado Novo Jubarte, um supercampo no Parque das Baleias que vai incrementar a produção de óleo capixaba.

Outra frente da companhia é nos projetos em terra (onshore). Com investimento total de aproximadamente R$ 340 milhões, a Petrobras iniciou em janeiro a ampliação da injeção de vapor no campo de Fazenda Alegre, localizado no município de Jaguaré, justamente com o objetivo de incrementar a produção.

O projeto prevê a perfuração de 45 poços (35 produtores e 10 injetores de vapor). No pico das operações, em 2023, a previsão é aumentar a produção do campo em cerca de 57% sobre a média de 2018, que foi de aproximadamente 3,5 mil barris de petróleo por dia.

Superar esse desafio de elevar a produção, segundo especialistas, vai escancarar uma gama de possibilidades para o Espírito Santo, com crescimento da atividade econômica local, gerando empregos de qualidade, chances de negócios para uma robusta cadeia de fornecedores, royalties para a administração pública, além de riqueza e desenvolvimento para a sociedade e economia capixaba.

Na avaliação do coordenador do Fórum Capixaba de Petróleo e Gás (FCP&G), Durval Vieira de Freitas, retornar ao posto de segundo maior produtor é algo difícil, mas incrementar a produção do Espírito Santo se faz necessário. “Tivemos um declínio pelo tempo de exploração nos poços, relacionado à vida útil deles. A Bacia de Santos entrou muito forte por causa da produção no pré-sal, e recuperar o segundo será difícil. Devemos continuar em terceiro, mas temos como melhorar e estamos com boas expectativas para isso.”

Estudos apontam que o pico da demanda por petróleo vai se dar entre os anos de 2030 e 2040, e depois outros projetos vão se tornar mais atrativos
Milton Costa Filho, secretário-geral do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP)

Num cenário de retomada das oportunidades, o secretário-geral do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), Milton Costa Filho, ressalta que a próxima década pode representar a última janela de oportunidades para o segmento de petróleo e gás do país. “Estudos apontam que o pico da demanda por esse combustível vai se dar entre os anos de 2030 e 2040, e depois outros projetos vão se tornar mais atrativos, como os que envolvem energias solar e eólica”.

Investimentos para elevar a produção também estão em curso no offshore. A Shell, que atua no Espírito Santo na região conhecida como Parque das Conchas, no Litoral Sul, perfurou em 2019 dois poços adicionais na região.

Segundo a empresa, essa é a primeira campanha de perfuração da Shell Brasil no Estado desde 2016 “com o objetivo de aumentar a produção de petróleo e o tempo de vida útil do ativo”.

Exploração

A nova era do petróleo também tem propiciado a retomada dos investimentos em exploração no Espírito Santo, com novas perfurações em estudo e em execução, o que tem deixado empresas capixabas ligadas ao segmento mais otimistas.

A Petrobras prevê em seu Plano de Negócios e Gestão 2019-2023 investimentos associados à recomposição do seu portfólio de exploração. Atualmente, a companhia possui 11 blocos exploratórios no mar e outros três em terra no Espírito Santo.

Outra companhia que atua em águas capixabas, a Equinor, com oito blocos exploratórios na Bacia do Espírito Santo, afirmou estar avaliando, em conjunto com a operadora Petrobras, a perfuração de um poço em bloco próximo a Vitória que teve recentemente o período de exploração ampliado em dois anos.

Freitas lembra ainda que há uma grande expectativa nos investimentos em exploração decorrentes da 14ª Rodada de Leilões da ANP, realizada em 2017, quando foram arrematados 13 blocos em terra e mar do Espírito Santo.

Entre as novas entrantes no mercado capixaba está a maior petroleira do mundo, a ExxonMobil, que comprou dois blocos na porção da Bacia de Campos correspondente ao Estado. Também levaram blocos em mar a chinesa CNOOC Petroleum e a espanhola Repsol, ambas para a Bacia do Espírito Santo.

Outras oportunidades vislumbradas desde já são com os novos leilões da ANP, programados para ocorrer entre 2020 e 2021. O último deles, que será o 18º leilão, previsto para 2021, terá áreas no Espírito Santo.

O Conselho Nacional de Política Energética autorizou a agência a preparar a oferta, que será na modalidade de concessão. Deverão ser selecionados blocos em três setores de águas ultraprofundas fora do polígono do pré-sal da Bacia do Espírito Santo.


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