Economia

Campo se conecta às novas tecnologias

A internet das coisas promete revolucionar o meio rural brasileiro em menos de cinco anos. Produtores poderão acompanhar o clima e o desempenho da plantação pela web

campo conectado

Há até pouco tempo, o campo se isolava dos sistemas de telecomunicações. O serviço era restrito aos distritos-sedes, atendidos basicamente por orelhões. Aos poucos, a telefonia móvel foi chegando ao interior: primeiro com a internet 2G; depois com a conexão de terceira geração nos centros das pequenas cidades. Com o 4G, essa distância entre o que acontece no meio urbano e na roça foi se reduzindo. A partir daí a tecnologia começou a mudar a forma de trabalho no agronegócio em todo o Brasil, inclusive no Estado.

Assim como os outros setores produtivos, a agricultura e a pecuária vão passar por uma revolução de conectividade. A internet das coisas pode ter impacto econômico de R$ 21 bilhões no meio rural brasileiro até 2025, segundo estimativa conjunta da consultoria McKinsey, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Ministério da Ciência e Tecnologia.

O agro vai modificar o jeito de produzir. Será capaz de contar com sensores instalados na terra que vão acompanhar desde o plantio ao período da colheita. Também poderá dispor de e-armazéns que funcionam a partir de ultrassom.

O sistema garante a leitura, em tempo real, do volume estocado e mostra ainda as condições do ambiente: se está abafado, úmido e vulnerável a agentes químicos. E já são usados drones que transmitem informações pela internet e permitem acompanhamento ao vivo do que acontece na propriedade rural.

“A tecnologia ajuda de muitas formas a aumentar a produção e a qualidade dos produtos. Em termos de automação, nós temos diversas máquinas disponíveis. Também há programas e aplicativos que ajudam a organizar o que é produzido. Contamos ainda com o melhoramento genético e com a possibilidade de se produzir utilizando menos agrotóxicos e mais qualidade”, aponta o doutor em Fitopatologia e técnico do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) José Aires Ventura.

Mas ele pontua que um obstáculo a ser superado é o preparo do homem do campo para se beneficiar das novas tecnologias. “É preciso qualificar as pessoas. São necessárias políticas públicas para ajudar nesse desenvolvimento de quem trabalha na zona rural. Quando toda a tecnologia passa a ser utilizada por pessoas capacitadas, os ganhos na produção podem chegar aos 100% e até ultrapassar essa marca.”

De acordo com o professor Wallace Millis, mestre em Planejamento e Desenvolvimento e

coordenador do curso de Gestão do Agronegócio da Universidade Vila Velha (UVV), dentro da agricultura estão acontecendo diversas transformações tecnológicas importantes. E tais mudanças passam pelas mãos dos produtores – de grandes ou pequenas propriedades –, dos centros de pesquisa governamentais e de empreendedores que se associam a proprietários rurais para levar mais desenvolvimento tecnológico ao campo. “São diversos atores nesse processo. O homem do campo precisa se preparar para lidar com essa tecnologia. Todo o arranjo produtivo terá de se envolver nesse processo”, avalia.

Esta é uma tendência. Um caminho sem volta. A evolução tecnológica está aí para ajudar a melhorar a gestão tanto nas cidades quanto no meio rural
Pedro Henrique Mannato, sócio-fundador da Olho no Dono

Um dos grandes exemplos da utilização de tecnologia no meio rural foi criado aqui no Espírito Santo: a startup Olho do Dono. O programa permite que os criadores de bovinos façam a pesagem dos animais de forma rápida e fácil, sem estresse para os animais.

“Nas fazendas tradicionais, o gado só é pesado hoje duas vezes por ano. Para executar esse procedimento, os animais têm de andar do pasto até o curral. Então, tem todo o estresse da pesagem. Há, no rebanho, perda de peso, que demora até uma semana para ser recuperado. Com o aplicativo, basta filmar o animal no pasto, e o sistema reconstrói a imagem do boi, aplica a ciência de dados e inteligência artificial e identifica as características de cada bovino”, explica o sócio-fundador da Olho do Dono, Pedro Henrique Mannato.

Ele destaca a facilidade de uso do sistema. “Para quem utiliza, não tem mistério. É como fazer uma gravação num celular normal. Basta apertar o botão para iniciar a gravação enquanto o boi estiver aparecendo na tela. O treinamento dura 10 minutos, e as pessoas já compreendem como tudo deve ser feito”, comenta Pedro, citando que o próximo passo deve ser a utilização de drones para fazer a pesagem do gado.

“Acho que esta é uma tendência. Um caminho sem volta. A evolução tecnológica está aí para ajudar a melhorar a gestão tanto nas cidades quanto no meio rural. Agora é preciso aproveitar essas inovações”, completa.


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