Infraestrutura

Rotas para conectar o Estado ao mundo

Estado precisa superar gargalos logísticos históricos para avançar em infraestrutura e assim ganhar mais investimentos para contribuir com o desenvolvimento local

Foto:Agência Vale
Renovação do contrato de concessão da Vitória a Minas será antecipada pela Vale. Em contrapartida, empresa fará novas ferrovias

O desenvolvimento do Espírito Santo tem se esbarrado em um gargalo chamado infraestrutura logística. O Estado ganhou um novo aeroporto após esperar mais de dez anos pela obra. E tem passado por obras no setor rodoviário, como a duplicação da BR 101 e a construção do Contorno do Mestre Álvaro.

A economia capixaba, porém, depende de outros modais de transporte, como uma nova ferrovia, da ampliação de outras rodovias e de novos portos capazes de expandir os negócios do comércio exterior.

O governo federal, em junho, confirmou que a obra do trecho da ferrovia EF 118 entre Cariacica e o Porto de Ubu, em Anchieta, será feita pela Vale com o dinheiro da outorga da renovação antecipada do contrato de concessão da Estrada de Ferro Vitória a Minas. A iniciativa estará prevista como projeto adicional e alternativo, mas, que segundo o Ministério de Infraestrutura, será executada pela Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT).

A contrapartida obrigatória, contudo, do prolongamento do contrato será a construção da Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico), entre Goiás e Mato Grosso.

A obra no Espírito Santo ocorrerá após uma revisão feita pela ANTT no processo de renovação do contrato com a Vale, o que levou à elevação do valor da outorga de R$ 639 milhões para R$ 1,5 bilhão, segundo estimativas. Esse recurso é quase o total necessário para fazer o ramal de 80 quilômetros até Anchieta. O custo da obra nesse trecho é da ordem de R$ 2 bilhões, mas seria necessário pelo menos o dobro dessa cifra para estender a malha ferroviária até o Porto Central, em Presidente Kennedy.

Para criar um ambiente de negócios mais favorável e competitivo, é fundamental que investimentos logísticos muito aguardados saiam do papel. Se de um lado políticas de incentivo e de atração de aportes impulsionam o desenvolvimento regional e estadual como um todo, de outro alguns gargalos precisam ser eliminados para que o crescimento tenha ritmo constante e possa alavancar a economia capixaba.

O presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Léo de Castro, aponta que é preciso sanar problemas de infraestrutura, sobretudo a conexão rodoviária, com a efetiva duplicação das BRs 101 e 262, e promover a instalação de portos que possam atender todo o setor produtivo, e não apenas aqueles dedicados a determinadas atividades. “Esses são pontos prioritários. Mas se conseguirmos avançar com a conexão ferroviária, de Vitória ao Rio, ligando-a a portos complementares, as empresas instaladas no Espírito Santo poderão se integrar de maneira mais competitiva com o Brasil e o mundo. Além disso, todo investidor que decide atuar em algum Estado olha a agenda de infraestrutura, assim a logística afeta diretamente a atração de negócios”, destaca.

Léo de Castro reforça que os investimentos em infraestrutura se tornam ainda mais urgentes diante do prazo de validade da convalidação de incentivos fiscais: no setor atacadista, o limite são mais quatro anos; para a indústria, 14.

Já em relação ao comércio exterior, um investimento que mudaria a realidade do segmento no Estado seria a implementação de um terminal exclusivo de contêineres para atrair mais linhas e a atracação de navios maiores. “Atualmente, as operações são feitas no regime de cabotagem através dos portos de São Paulo e do Rio de Janeiro, aumentando custos, como frete e o transit time (tempo de trânsito)”, explica o presidente do Sindicato do Comércio de Exportação e Importação do Espírito Santo (Sindiex), Marcilio Machado.

É preciso mais rapidez na execução de projetos de infraestrutura
Léo de Castro, presidente da Findes

Outro fator que pode contribuir para alavancar a economia, cita, é a privatização da Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa). “É preferível que os portos estejam sob o controle da iniciativa privada. No Estado, há exemplos de grande excelência na administração desses serviços.”

Para o presidente do ES em Ação, Fabio Brasileiro, a privatização da Codesa também é coerente. Ele alerta que esse não é um movimento rápido, mas que o processo está ganhando velocidade. “Há um processo de maturação de atração de investidores neste momento. Está sendo estudado se o porto vai ser desestatizado, se vai ser vendido, qual será o modelo adotado para que possa trazer retorno e atratividade a quem está investindo. Vejo essa iniciativa com bons olhos para o setor privado e principalmente para a área industrial da Região Metropolitana”, avalia.

Já Machado defende que os investimentos nos portos Central, Portocel, Petrocity e da Imetame devem ser concentrados para que, de fato, haja uma transformação no setor. “Os novos portos são grandes oportunidades para ajudar a minimizar os gargalos logísticos históricos do Espírito Santo. São projetos de grande magnitude, que trazem competitividade, geram oportunidades, movimentam a economia e atraem investimentos. Entretanto, não adianta termos vários projetos sem que nenhum saia do papel. Defendo abertamente que os esforços sejam concentrados para que, pelo menos, um terminal saia do papel. Isso será de suma importância para a economia capixaba e brasileira”, finalizou.

Pioneiro como exportador de rochas ornamentais, o Espírito Santo ainda enfrenta alguns imbróglios que o impedem de ser mais competitivo como outros Estados. Problemas de infraestrutura e logística atrapalham o desenvolvimento do setor, que poderia ser cada vez mais crescente. Segundo o presidente do Centro Brasileiro dos Exportadores de Rochas Ornamentais, Frederico Robison, a malha rodoviária em péssimas condições é um dos entraves.

“O Estado é carente em portos para escoamento de carga conteinerizada. As rodovias federais são precárias, perigosas, e isso impacta diretamente o custo dos transportadores. E seriam essenciais incentivos para atrair maior movimentação de carga para o aeroporto”, pontua.

Além dos gargalos de logística, o segmento de rochas ornamentais ainda enfrenta outros desafios. “Competimos no mercado internacional e convivemos com margens estreitas, por isso a logística é extremamente importante. Desde que são extraídos, nossos produtos percorrem um caminho de desafios até chegar ao cliente final. Além da constante busca pela melhoria logística, o setor de rochas ornamentais precisa continuar se desenvolvendo para cravar a sua marca no exterior”, informou Robison, acrescentando que é preciso investir cada vez mais em novas tecnologias para se atingir um crescimento seguro.


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