Educação

Ensino distante da necessidade do mercado

Para especialistas, Espírito Santo ainda vive problemas de qualidade na educação de base, o que causa um grave problema para quem busca uma colocação profissional

Foto:Pixabay

Mesmo com os avanços na educação vivenciados pelo Estado nos últimos anos, especialistas afirmam que os resultados ainda estão aquém das necessidades dos alunos e também abaixo das demandas do mercado profissional. O Espírito Santo, por exemplo, já solucionou os problemas como falta de vagas. Mas ainda precisa superar as barreiras que impedem a qualidade e também a evasão escolar.

O professor Marcelo Lima, do Departamento de Educação, Política e Sociedade da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), ressalta que “temos problemas de qualidade, quantidade e localização”.

No ensino pré-escolar, Lima indica que a cobertura é pequena na rede pública, embora devesse ser de 100% a partir dos 4 anos, e a qualidade é discutível. No ensino fundamental, a abrangência já é melhor, porém também há deficiências. “O problema maior diz respeito ao segundo ciclo, a partir do 6º ano (antiga 5ª série), quando as reprovações aumentam. De modo que o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que mistura o desempenho nas avaliações com as aprovações, é pequeno”, afirma.

Na avaliação de Lima, é preciso investir mais na formação dos professores e também apoiar mais as famílias em situação de vulnerabilidade, uma vez que muitas não têm condições de oferecer um capital cultural a suas crianças e adolescentes.

O professor diz que essa realidade se manifesta de maneira muito clara no segundo segmento do ensino fundamental e, à medida que se avança nessas séries, maior é o número de reprovações e menor tem sido o desempenho do Espírito Santo no Ideb. “Isso vai reproduzindo uma distorção idade-série importante e, para ser revertida, não basta apenas o aumento de matrícula, mas sim ações para permanência escolar.”

Joilton Rosa, cientista social e professor de Sociologia, observa que a educação básica no país, de forma geral, está fragilizada e com resultados ruins. “O resultado do último Ideb, para quem estava concluindo o ensino fundamental, é sofrível. Apenas 14% dos alunos do 9º ano haviam aprendido Matemática adequadamente e 30%, Língua Portuguesa. No Espírito Santo, estamos apenas com dois pontos percentuais a mais: 16% e 32%, respectivamente.”

É uma base muito frágil para que se forme um profissional com qualidade lá na frente. Como compensar essa defasagem de embasamento educacional? Eu acredito que, inicialmente, essa base precisa ser revista, repensada e rediscutida.
Joilton Rosa, cientista social

Questionado sobre os motivos para que os resultados de educação, no Estado e no país, sejam tão ruins, Joilton Rosa pondera que, quando o déficit é muito grande, o problema nunca é apenas um. Ou seja, são vários os fatores que contribuem para a má qualidade do ensino, apurada nos processos de avaliação.

Assim como o professor Marcelo Lima, um dos aspectos considerados por Joilton Rosa é a formação do professor que, para ele, passou por um processo de fragilização. Além disso, a profissão tornou-se opção para muitas pessoas que não tinham no magistério o primeiro interesse. “Passou a ser bico para muitos que não conseguiram se estabelecer em sua própria área”, avalia.

ENSINO MÉDIO

Já no ensino médio, Marcelo Lima diz que há um grande problema na cobertura que, segundo ele, é cerca de metade do que deveria ser ofertado. Além disso, as distorções que começaram no ensino fundamental desaguam nessa etapa, na qual em torno de 40% dos estudantes já chegam com idade defasada. Junta-se a essa condição, a pressão que muitas famílias fazem para que o jovem ingresse no mercado de trabalho para colaborar com as despesas da casa.

Ele fica em um dilema: estudo ou trabalho? E acaba saindo da escola porque o ensino médio, hoje, tem muito a ver com a possibilidade de ingressar em um curso superior e, diferente de quem tem condições econômicas e quer entrar numa faculdade, essa população de baixa renda acaba ficando no limbo, sem entrar no nível médio ou evadindo.
Marcelo Lima, professor da Ufes

Para Lima, uma estratégia que a rede federal consegue fazer com mais propriedade é a articulação da educação profissional com o ensino médio, com os quais o jovem tem duas perspectivas solidamente construídas: a oportunidade de acessar o ensino superior e também o mercado de trabalho.

Mas a realidade, para a maioria, é uma escola precária, sem chance real de profissionalização, segundo Lima. Além disso, ele aponta que há um problema de territorialidade com o fechamento de escolas do campo e de turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA), reduzindo a possibilidade de jovens de concluirem a formação básica.

Tantas condições desfavoráveis acabam se refletindo no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Comparando dados nacionais de 2016 e 2017, Joilton Rosa aponta que os resultados são intermediários, com diminuição de médias em algumas áreas e estagnação em outras. “Isso representa que, apesar de todo o esforço divulgado, não há uma melhora sustentada nos resultados educacionais no ensino médio.”

Outro dado analisado pelo cientista social foi o do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), realizado a cada três anos. O último, referente a 2015, foi aplicado em 70 países e mediu desempenho em leitura, matemática e ciências de estudantes de 15 anos de 841 escolas. No comparativo com o exame anterior, de 2012, houve queda em todas as áreas.

“Apesar de pequena, tivemos redução no desempenho de nossos alunos em uma fase primordial de preparação para o mercado de trabalho. Assim, claro que na frieza dos números, não estamos percebendo melhoras substanciais na formação de nossas crianças e adolescentes, algo preocupante que precisa de atenção e de envolvimento multissetorial”, frisa Joilton Rosa.


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