Economia

Ambiente fértil para a abertura de novas empresas

Desempenho do PIB municipal conta pontos na atração de novos negócios. Investidores também priorizam áreas com polos empresariais consolidados

Foto:Pixabay
Ambiente fértil

Quando uma empresa tem planos de investir ou ampliar negócios, um dos primeiros quesitos avaliados é a situação de mercado do município visado. Dessa forma, indicadores como o Produto Interno Bruto (PIB) municipal e o PIB per capita acabam sendo fundamentais na atração de investidores e na decisão de abrir empresas.

Além da análise da riqueza produzida, outros fatores pesam nessa escolha, como o número de empresas instaladas e a proporção entre pequenos e grandes negócios. É o conjunto desses indicadores que, segundo especialistas, dá a noção da situação de mercado dos municípios.

“Um bom PIB ajuda o investidor na decisão de abrir uma empresa, porque, nesses lugares, ele possivelmente terá mais acesso a insumos, matérias-primas e um bom mercado consumidor. É um ambiente propício à atividade econômica”, explica a diretora-presidente do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), Gabriela Lacerda.

Já o economista Eduardo Araújo, vice-presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-ES), afirma que o número de empresas instaladas tem relação direta com a atratividade. 

O PIB per capita é importante porque dá noção da renda produzida, mas ele não é o único parâmetro de desenvolvimento. Também são analisados os indicadores de empresas, o tamanho e a diversificação delas, fatores que mostram se há negócios em circulação na região.
Eduardo Araújo, economista

Com base nesses dados, a melhor situação de mercado no Espírito Santo é registrada em Viana, com média 0,644. Apesar de não possuir um PIB per capita tão alto, de

R$ 24,2 mil (a média capixaba é de R$ 30,6 mil), a cidade se destaca por abrigar 851 empresas, sendo 5% delas de grande porte, o que contribuiu para que ela ocupasse o primeiro lugar no Índice de Ambiente de Negócios, na categoria Mercado.

Para o prefeito do município, Gilson Daniel, os resultados são fruto do apelo logístico da cidade, cortada pelas duas principais rodovias do Estado, próxima à Capital, e com o metro quadrado de terra mais barato da Região Metropolitana.

A cidade tem uma facilidade logística espetacular, com grande capacidade de escoamento. Além disso, temos uma boa lei de incentivos que atrai as empresas, um atendimento ao empresário mais simples e menos burocrático, um planejamento consistente, com o Plano Diretor Municipal (PDM) e um plano de mobilidade para pautar o nosso desenvolvimento.
Gilson Daniel, prefeito de Viana

Depois de Viana, o melhor cenário de mercado é observado na Serra, que ficou com média 0,637 em função de vários indicadores positivos. No Estado, a cidade tem o sétimo maior PIB per capita (R$ 36,6 mil) e é a terceira com mais empresas, com um total de 7.238 negócios, atrás apenas de Vitória e Vila Velha.

O secretário de Desenvolvimento Econômico da Serra, Paulo Menegueli, afirma que a localização geográfica do município, os incentivos fiscais e a redução da burocracia têm sido os principais atrativos da cidade.

Temos uma vocação exportadora porque estamos próximo aos portos, ao aeroporto, ao Estaleiro Jurong, somos cortados pela BR 101 e o solo também ajuda. Da nossa parte, também temos feito de tudo para atrair empresas, com a criação do comitê de desburocratização, simplificação de leis municipais, e incentivos com descontos em alguns impostos. Tudo isso nos faz crer que os próximos resultados serão ainda melhores.
Paulo Menegueli, secretário de Desenvolvimento Econômico da Serra

Na sequência, compõem a lista dos 10 municípios com mercado mais atrativo Ibiraçu, Vitória, Presidente Kennedy, Cariacica, Atílio Vivácqua, Aracruz, São Gabriel da Palha e Linhares.

“Nessas localidades já há um mercado constituído, empresas que podem dar suporte para atividades instaladas, além de uma facilidade maior em encontrar mão de obra capacitada. É um indicador que mostra que já há negócios em circulação na região”, comenta Araújo.

Gabriela Lacerda observa que os dados são interligados. “Em locais cujos indicadores de crescimento econômico vão bem, o número de empreendimentos aumenta, gerando um ciclo positivo para o desenvolvimento na região. E como consequência do aumento da atividade empreendedora municipal, há diminuição do desemprego”, frisa.

PIB PER CAPITA

Um dos principais indicadores de mercado, a soma de riquezas produzidas (PIB) dividida pelo total de habitantes de uma localidade, dá dimensão da circulação financeira e da riqueza da região.

No Estado, em que o PIB per capita médio é de R$ 30,6 mil, o município com maior destaque é Presidente Kennedy, em função das atividades de produção de petróleo e gás. Na cidade do Litoral Sul, o Produto Interno Bruto total em 2015 somou R$ 5,803 bilhões. Dividido pelos 11.309 habitantes, o indicador foi de R$ 513,1 mil.

A prefeitura da cidade informou, através da assessoria, que, com os recursos dos royalties do petróleo, tem investido para fomentar o desenvolvimento econômico no município, ofertando qualificação profissional para os moradores e melhorando a infraestrutura das estradas.

Se os números já são animadores, com a implantação do Porto Central, em Presidente Kennedy, que deve atrair indústrias para a localidade, e com a criação do Fundo de Desenvolvimento do Sul do Espírito Santo (Fundesul), a tendência é de dinamismo e desenvolvimento da economia local.

“Garantir infraestrutura e mão de obra qualificada tem sido uma constante para preparar o município para os grandes empreendimentos que têm a expectativa de se instalar em Presidente Kennedy. Fizemos um aporte de R$ 50 milhões no Fundesul, que, entre os atrativos, oferecerá juros mais baixo e carência maior para micro, pequenas, médias e grandes empresas dos setores industriais, de comércio e de serviço que tiverem o interesse de se instalarem na cidade”, informou a prefeitura.

Além de Kennedy, também superam a média capixaba em PIB per capita as cidades de Itapemirim (R$ 136 mil para cada habitante), Anchieta (R$ 99,8 mil), Marataízes (R$ 65,8 mil), Vitória (R$ 64,7 mil) e Aracruz (R$ 55,8 mil).

Segundo o economista e vice-presidente do Conselho Regional de Economia do Espírito Santo (Corecon-ES), Eduardo Araújo, o indicador alto aponta para uma maior circulação de renda na região, o que implica em um mercado consumidor atrativo para determinados serviços ou produtos.

PIB TOTAL

No Estado, os principais avanços no PIB total de 2014 para 2015, último ano pesquisado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foram registrados em Vitória, Serra, Vila Velha e Aracruz. Na Capital, que possui o maior PIB do Estado, o comércio e os royalties ajudaram na melhora.

Vitória teve um acréscimo significativo no comércio, na parte de transporte e na chamada área de artes, que contempla o segmento da economia criativa. Outro ponto é que no setor da indústria, alguns municípios produtores de petróleo perderam participação em royalties, o que beneficiou a Capital.
Gabriela Larcerda, presidente do IJSN

Gabriela Lacerda acrescenta que a ilha ainda tem a limitação geográfica como desafio na atração de grandes empresas.

A diretora-presidente do IJSN explica que o crescimento econômico na Serra se deu pelo incremento na fabricação de aços, já em Vila Velha foi a confecção de calçados, enquanto que, em Aracruz, o impulso veio da fabricação de máquinas e equipamentos.

Olhando a última década, os municípios de Presidente Kennedy e Itapemirim foram os destaques do Estado, impulsionados pelas atividades de produção e exploração do petróleo e gás e das indústrias que compõe a cadeia produtiva do setor.

Pontualmente de 2014 para 2015, no entanto, ambas as cidades do Sul, juntamente com Anchieta e Marataízes apresentaram recuo no PIB. Presidente Kennedy e Itapemirim, no Sul do Estado, perderam muita arrecadação com a queda do preço do barril do petróleo, que há três anos chegou ao patamar de US$ 37.

“Como a produção petrolífera é a base da economia desses municípios, eles sofreram um forte abalo diante da queda do petróleo, sentiram um baque nas participações especiais e royalties. Além de Presidente Kennedy e Itapemirim, em Marataízes houve uma diminuição da produção de óleo nos campos de Baleia Azul e Cachalote, o que também impactou negativamente”, ressalta Gabriela.

Anchieta também amarga perdas em função da paralisação das atividades da Samarco, que ocorre desde novembro de 2015 em função do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG).

DIVERSIFICAÇÃO

Os prejuízos desses quatro municípios escancaram a necessidade de diversificação da economia das cidades, proposta que, segundo o secretário estadual de Desenvolvimento, José Eduardo Azevedo, já vem avançando no Espírito Santo, mas ainda é um trabalho desafiador.

“Temos alcançado a cada ano um grau interessante de diversificação da nossa economia. Naturalmente nenhum município vai ser bom em tudo, mas se tiverem uma boa carteira de arranjos produtivos, isso dá segurança e estabilidade para que a cidade não dependa apenas de um setor”, frisa Azevedo.

Foto:Marcelo

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