Diversidade amplia qualidade de vida
Cidades com atividade econômica mais heterogênea têm o PIB per capita alto e compatível com a renda da população, que também conta com boa oferta de serviços
Indicador importante para entender a situação de mercado dos municípios, a divisão do total do Produto Interno Produto (PIB) pelo número de habitantes, o chamado PIB per capita, não resulta necessariamente em qualidade de vida ou na melhoria da renda da população. No Espírito Santo, o dado aponta para um rendimento médio de R$ 30,6 mil por ano para cada morador, valor distante do verdadeiro orçamento de boa parte das famílias capixabas.
A contradição fica ainda mais evidente em oito municípios capixabas que têm o PIB per capita maior que a média do Espírito Santo: Presidente Kennedy, Itapemirim, Anchieta, Marataízes, Vitória, Aracruz, Serra e Linhares.
“O PIB per capita alto não reflete necessariamente se uma população é mais rica ou mais pobre. Na prática, indica se a quantidade de dinheiro que é produzida é grande em proporção à quantidade de habitantes. É um indicador que fala mais de um cenário conjuntural do que da renda”, explica o economista Eduardo Araújo.
Em Presidente Kennedy, a divisão de todas as riquezas produzidas pelo total de habitantes foi de R$ 513,1 mil, o mais alto PIB per capita do Estado e de todo o Brasil. Mas toda essa riqueza não se traduz em benefícios para a população, como aponta Araújo.
“Esse indicador ajuda a compor a percepção de qualidade de vida, riqueza e qualidade dos serviços públicos, mas há falhas. Em Kennedy, é a produção de petróleo que movimenta a cidade e alavanca o PIB, mas a população não vê essa riqueza no seu dia a dia em geral”.
A prefeitura do município explica que os royalties obtidos da produção de óleo e gás possuem gasto limitado, mas que vem fazendo investimentos em educação e infraestrutura.
Apesar de o indicador não ser um parâmetro para definir a riqueza da população, há casos pontuais em que essa afirmação é possível, como em Vitória, que tem PIB per capita alto, de R$ 64,7 mil, mas não concentra apenas um tipo de atividade econômica, ao contrário de Presidente Kennedy, no Litoral Sul.
O economista Victor Nunes Toscano explica que o trabalhador da Capital ganha, em média, o dobro que o restante dos empregados capixabas, fruto de uma diversidade de atividades econômicas.
Vitória concentra a maior parte dos serviços mais qualificados do Estado, então aqui, sim, é possível afirmar que a população é mais rica.
Toscano lembra que boa parte dos serviços públicos dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário estadual se concentra na Capital, que também conta com grandes empresas dos setores industrial e comercial. “Tudo isso eleva a renda do cidadão de Vitória e faz com que esse indicador do município seja mais real”.
QUALIDADE
Se por um lado o PIB per capita não está diretamente ligado à riqueza da população, os especialistas ponderam que, em via de regra, ele impacta na qualidade dos serviços públicos e, consequentemente, na percepção de qualidade de vida da população.
A diretora-presidente do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), Gabriela Lacerda, avalia que, com o avançar do indicador, a qualidade de vida da população capixaba, de modo geral, está melhorando.
O crescimento do Produto Interno Bruto aponta para um incremento de investimentos, emprego e renda. É um ciclo virtuoso que melhora também a própria arrecadação do município, já que o mercado fica mais aquecido. E com mais dinheiro em caixa, a tendência é que isso traga mais qualidade para os serviços públicos prestados.
Entre os serviços públicos municipais que podem ser incrementados estão postos de saúde, escolas, infraestrutura viária e zeladoria urbana. “Quando esses serviços são bem prestados garantem mais conforto e melhoram a percepção de qualidade de vida pela população”, frisa Gabriela.
Por outro lado, um PIB per capita alto que não resulta em qualidade de vida e dos serviços públicos escancara a concentração de riqueza dos municípios, na avaliação do economista Eduardo Araújo.
“São cidades que possuem apenas uma única atividade expressiva ou uma grande indústria que pode elevar o PIB, mas isso não é positivo para quem quer investir porque a renda pode estar concentrada apenas nas mãos de algumas empresas e pessoas”, analisa.
DESENVOLVIMENTO
Se o PIB per capita mostra uma provável renda média anual dos moradores, o PIB total reflete o desenvolvimento de um município segundo os especialistas. No Estado, em valores nominais, a riqueza produzida foi de R$ 120,8 bilhões em 2017, segundo o Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN).
Dessa forma, a capital Vitória, que produziu R$ 23 bilhões em 2015 – número mais recente do PIB municipal divulgado – lidera o ranking sendo a cidade capixaba mais desenvolvida. Na sequência, a Serra no mesmo ano registrou PIB de R$ 17,7 bilhões.
Juntos, os dois municípios produziram 33,9% do PIB Estadual, sinalizando um foco de desenvolvimento na Região Metropolitana da Grande Vitória. “Se considerarmos toda essa região, a disparidade é ainda maior, uma vez que todos os municípios dessa área correspondem a 53,4% da produção capixaba, uma concentração muito alta”, afirma Gabriela.
Segundo a diretora-presidente do IJSN, por outro lado, 63 municípios representaram no ano apenas 17% da produção do Espírito Santo. “É muito discrepante e é uma diferença que vem crescendo. De 2014 para 2015, a participação da região Metropolitana no PIB Estadual se elevou em 6,8%”, explica.
Apesar de haver forte concentração na Grande Vitória, o desenvolvimento começa a avançar para o interior, sobretudo nas regiões do Caparaó e Nordeste capixaba, que ampliaram suas participações no PIB Estadual em 17% e 16,9% respectivamente em 2015. Juntas, porém, as duas regiões, ainda representam apenas 6% da produção capixaba.
Destaque também para as microrregiões Noroeste (com crescimento de 12,8% de 2014 para 2015), Central Serrana e Centro-Oeste (12,4% cada) e Sudoeste Serrana (12,3%).
Já o Litoral Sul, teve a maior queda de representação no PIB Estadual, com 32,4% de redução, percentual puxado sobretudo em função da paralisação das atividades da Samarco, em Anchieta, e da má-fase, à época, do setor de petróleo e gás, com o barril desvalorizado, o que afetou principalmente as cidades de Presidente Kennedy, Itapemirim e Marataízes.
Ainda assim, os municípios do Sul têm a segunda maior fatia de participação na riqueza do Espírito Santo: 14,12%. Na sequência está a região do Rio Doce, com 9,97% de representação no PIB capixaba.