Economia

Diversidade amplia qualidade de vida

Cidades com atividade econômica mais heterogênea têm o PIB per capita alto e compatível com a renda da população, que também conta com boa oferta de serviços

Foto:Petrobras/Valter Monteiro
FPSO Capixaba

Indicador importante para entender a situação de mercado dos municípios, a divisão do total do Produto Interno Produto (PIB) pelo número de habitantes, o chamado PIB per capita, não resulta necessariamente em qualidade de vida ou na melhoria da renda da população. No Espírito Santo, o dado aponta para um rendimento médio de R$ 30,6 mil por ano para cada morador, valor distante do verdadeiro orçamento de boa parte das famílias capixabas.

A contradição fica ainda mais evidente em oito municípios capixabas que têm o PIB per capita maior que a média do Espírito Santo: Presidente Kennedy, Itapemirim, Anchieta, Marataízes, Vitória, Aracruz, Serra e Linhares.

“O PIB per capita alto não reflete necessariamente se uma população é mais rica ou mais pobre. Na prática, indica se a quantidade de dinheiro que é produzida é grande em proporção à quantidade de habitantes. É um indicador que fala mais de um cenário conjuntural do que da renda”, explica o economista Eduardo Araújo.

Em Presidente Kennedy, a divisão de todas as riquezas produzidas pelo total de habitantes foi de R$ 513,1 mil, o mais alto PIB per capita do Estado e de todo o Brasil. Mas toda essa riqueza não se traduz em benefícios para a população, como aponta Araújo.

“Esse indicador ajuda a compor a percepção de qualidade de vida, riqueza e qualidade dos serviços públicos, mas há falhas. Em Kennedy, é a produção de petróleo que movimenta a cidade e alavanca o PIB, mas a população não vê essa riqueza no seu dia a dia em geral”.

A prefeitura do município explica que os royalties obtidos da produção de óleo e gás possuem gasto limitado, mas que vem fazendo investimentos em educação e infraestrutura.

Apesar de o indicador não ser um parâmetro para definir a riqueza da população, há casos pontuais em que essa afirmação é possível, como em Vitória, que tem PIB per capita alto, de R$ 64,7 mil, mas não concentra apenas um tipo de atividade econômica, ao contrário de Presidente Kennedy, no Litoral Sul.

O economista Victor Nunes Toscano explica que o trabalhador da Capital ganha, em média, o dobro que o restante dos empregados capixabas, fruto de uma diversidade de atividades econômicas.

Vitória concentra a maior parte dos serviços mais qualificados do Estado, então aqui, sim, é possível afirmar que a população é mais rica.
Victor Nunes Toscano, economista

Toscano lembra que boa parte dos serviços públicos dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário estadual se concentra na Capital, que também conta com grandes empresas dos setores industrial e comercial. “Tudo isso eleva a renda do cidadão de Vitória e faz com que esse indicador do município seja mais real”.

QUALIDADE

Se por um lado o PIB per capita não está diretamente ligado à riqueza da população, os especialistas ponderam que, em via de regra, ele impacta na qualidade dos serviços públicos e, consequentemente, na percepção de qualidade de vida da população.

A diretora-presidente do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), Gabriela Lacerda, avalia que, com o avançar do indicador, a qualidade de vida da população capixaba, de modo geral, está melhorando.

O crescimento do Produto Interno Bruto aponta para um incremento de investimentos, emprego e renda. É um ciclo virtuoso que melhora também a própria arrecadação do município, já que o mercado fica mais aquecido. E com mais dinheiro em caixa, a tendência é que isso traga mais qualidade para os serviços públicos prestados.
Gabriela Larcerda, presidente do IJSN

Entre os serviços públicos municipais que podem ser incrementados estão postos de saúde, escolas, infraestrutura viária e zeladoria urbana. “Quando esses serviços são bem prestados garantem mais conforto e melhoram a percepção de qualidade de vida pela população”, frisa Gabriela.

Por outro lado, um PIB per capita alto que não resulta em qualidade de vida e dos serviços públicos escancara a concentração de riqueza dos municípios, na avaliação do economista Eduardo Araújo.

“São cidades que possuem apenas uma única atividade expressiva ou uma grande indústria que pode elevar o PIB, mas isso não é positivo para quem quer investir porque a renda pode estar concentrada apenas nas mãos de algumas empresas e pessoas”, analisa.

DESENVOLVIMENTO

Se o PIB per capita mostra uma provável renda média anual dos moradores, o PIB total reflete o desenvolvimento de um município segundo os especialistas. No Estado, em valores nominais, a riqueza produzida foi de R$ 120,8 bilhões em 2017, segundo o Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN).

Dessa forma, a capital Vitória, que produziu R$ 23 bilhões em 2015 – número mais recente do PIB municipal divulgado – lidera o ranking sendo a cidade capixaba mais desenvolvida. Na sequência, a Serra no mesmo ano registrou PIB de R$ 17,7 bilhões.

Juntos, os dois municípios produziram 33,9% do PIB Estadual, sinalizando um foco de desenvolvimento na Região Metropolitana da Grande Vitória. “Se considerarmos toda essa região, a disparidade é ainda maior, uma vez que todos os municípios dessa área correspondem a 53,4% da produção capixaba, uma concentração muito alta”, afirma Gabriela.

Segundo a diretora-presidente do IJSN, por outro lado, 63 municípios representaram no ano apenas 17% da produção do Espírito Santo. “É muito discrepante e é uma diferença que vem crescendo. De 2014 para 2015, a participação da região Metropolitana no PIB Estadual se elevou em 6,8%”, explica.

Apesar de haver forte concentração na Grande Vitória, o desenvolvimento começa a avançar para o interior, sobretudo nas regiões do Caparaó e Nordeste capixaba, que ampliaram suas participações no PIB Estadual em 17% e 16,9% respectivamente em 2015. Juntas, porém, as duas regiões, ainda representam apenas 6% da produção capixaba.

Destaque também para as microrregiões Noroeste (com crescimento de 12,8% de 2014 para 2015), Central Serrana e Centro-Oeste (12,4% cada) e Sudoeste Serrana (12,3%).

Já o Litoral Sul, teve a maior queda de representação no PIB Estadual, com 32,4% de redução, percentual puxado sobretudo em função da paralisação das atividades da Samarco, em Anchieta, e da má-fase, à época, do setor de petróleo e gás, com o barril desvalorizado, o que afetou principalmente as cidades de Presidente Kennedy, Itapemirim e Marataízes.

Ainda assim, os municípios do Sul têm a segunda maior fatia de participação na riqueza do Espírito Santo: 14,12%. Na sequência está a região do Rio Doce, com 9,97% de representação no PIB capixaba.

Foto:Marcelo

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