Melhores cidades para abrir empresa
Índice de Ambiente de Negócios mapeia, em oito áreas, forças e fraquezas dos municípios capixabas para atração de empresas

Na hora de decidir onde abrir uma empresa, vários fatores pesam para o empreendedor. É a combinação de elementos como um bom ambiente regulatório, infraestrutura e disponibilidade de capital humano que vai determinar se aquela companhia terá custos maiores ou menores e, consequentemente, produtos mais competitivos ou não.
Levando em consideração oito indicadores, o Anuário Espírito Santo construiu o Índice de Ambiente de Negócios dos municípios capixabas, um esforço para mapear e diagnosticar as qualidades e fraquezas das cidades com relação ao ambiente de negócios. Foram avaliados os seguintes quesitos nos municípios: a infraestrutura implantada, o nível de segurança, o potencial de seu mercado, a facilidade de acesso a capital financeiro, as iniciativas e o incentivo à inovação, o capital humano qualificado disponível, a quantidade de empresas abertas e o tempo necessário para isso (o ambiente regulatório) e o acesso à saúde. Ao todo, foram usados 25 dados abertos e outros levantados pela reportagem.
Na combinação dos fatores, a capital do Estado, Vitória, ficou com primeiro lugar e foi considerada a melhor cidade para empreender no território capixaba. Em segundo, está Alfredo Chaves; depois vêm Colatina, Itarana, Iconha e Vila Velha.
Todos os oito aspectos são importantes para a criação de um bom ambiente de negócios, e um bom nível de eficácia em cada um deles gera um ambiente dinâmico para o empreendedor, afirma o diretor de Competitividade do Movimento Empresarial Espírito Santo em Ação, Nailson Dalla Bernardina.
Quando algo acontece, como a paralisação dos caminhoneiros, a crise na segurança ou questões relacionadas à falta de conectividade (internet) e energia, percebemos o impacto imediato nos negócios e na vida das pessoas. Deficiências de infraestrutura, segurança, saúde, entre outros, impactam negativamente o ambiente de negócios, tornam as operações mais caras para as empresas e, consequentemente, para os consumidores, reduzindo a competitividade de nossas organizações.
No geral, aponta Bernardina, a complexidade regulatória brasileira reduz o interesse em empreender. “São muitas horas e recursos despendidos para atender a uma legislação, em muitos casos, ultrapassada. A falta de capital humano qualificado também dificulta, pois alunos saem da escola com déficit de aprendizagem, diminuindo a produtividade dos negócios e a capacidade de inovar das empresas. O acesso e o custo do capital são outros entraves no Brasil, o mercado financeiro tradicional entrega ganhos financeiros que, em média, são superiores a muitas margens de empreendimentos, afastando o capital das atividades produtivas”, analisa.
O presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Leo de Castro, concorda que o ambiente regulatório no Brasil tem muito a evoluir.
Somos um país que tributa investimentos e exportações, indo na contramão do resto do mundo. Gastamos mais de 2 mil horas de trabalho por ano somente para pagar tributos, fora a insegurança jurídica causada pela alteração constante via liminares, decretos e subjetividades da lei. É preciso realizar uma série de reformas no país, todas com um único objetivo: simplificação.
No Espírito Santo, Castro observa que o mercado é um ponto fraco por questões demográficas. Mas a posição geográfica do Estado, diz ele, compensa essa dificuldade, já que estamos a um raio de mil quilômetros de 50% do PIB brasileiro e em uma posição geográfica favorável para a exportação.
O acesso ao capital, analisa o presidente da Findes, é outro dificultador e um problema sério enfrentado pelas indústrias. “Nem mesmo a menor taxa Selic da história (6,5%) causou impacto no spread bancário médio, atualmente em 20,4%. Esse custo alto para tomada de crédito prejudica o capital de giro”, afirma.
Na indústria, a inovação é essencial para gerar produtos mais competitivos. O Espírito Santo é o 14º colocado no pilar Inovação do ranking nacional medido pela The Economist, mas ainda faltam investimentos em pesquisa e desenvolvimento e alinhamento entre os atores de inovação do Estado, diz Castro.
“Este problema estamos resolvendo com a Mobilização Capixaba pela Inovação, lançada recentemente. Com um fundo de R$ 80 milhões para financiar projetos inovadores, a MCI vai aproximar empresas, academia e setor público. Nossa proposta é a criação de uma pauta conjunta para inovações que tragam competitividade e produtividade, gerando notas fiscais no final do dia”, salienta.
Sobre a formação de capital humano, tão importante para a indústria, Leo de Castro explica que a Federação está implantando o ensino maker (introduzir o aluno na prática) e bilíngue no Sesi, e criando cursos de mecatrônica e Big Data no Senai, atentos à chegada da indústria 4.0. “Também implantamos programas como o ES Mais Produtivo, que traz o lean manufacturing (manufatura enxuta) para as indústrias, gerando ganhos de produtividade de 100% com investimento recuperado em uma semana. Estamos melhorando a formação da infância à educação executiva”.
Já na área do comércio, a burocracia é o que mais atrapalha o empreendedor, explica o presidente da Federação do Comércio do Estado (Fecomércio), José Lino Sepulcri.
Empreender no Brasil hoje é uma tarefa complexa. É um país altamente burocrático, principalmente para o microempresário. São exigidos inúmeros documentos, registros, que demandam um tempo muito grande para conseguir. Os impostos também são um problema grave, temos uma legislação tributária complicada.
O acesso e o custo do crédito, diz Sepulcri, são outros entraves para o empresário no Estado e no país. “A maioria dos micro e pequenos empresários que carece de crédito não sabe como obter uma linha com juros baixos. Para a população comprar, as taxas também são desanimadoras”.
Outro grande desafio no setor é a segurança pública. “Após a greve dos policiais militares, muitos estabelecimentos não tiveram nem condição de sobreviver, foram assaltados, tiveram as mercadorias roubadas, as instalações danificadas e acabaram fechando as portas. A nível estadual, temos cerca de 300 situações de roubos e furtos por dia, além dos roubos de carga”, comenta Sepulcri.
Embora não afete tão diretamente os pequenas empresas, a infraestrutura logística ainda é um empecilho para a expansão de negócios no Espírito Santo, avalia o superintendente do Sebrae-ES, José Eugênio Vieira.
Ele ressalta que, para o avanço da economia capixaba, de forma geral, são necessárias melhorias não só nas estradas, como também nas ferrovias, portos e aeroportos.
Sem infraestrutura, não é possível realizar qualquer atividade com qualidade, menos ainda pensar em expandi-la. Se não houver mercado, não tem negócio. Para prosperar em qualquer atividade, é preciso ter suporte de pessoal qualificado. Segurança pública e segurança jurídica também são fundamentais para que não haja instabilidade no mercado.
Além disso, diz o superintendente do Sebrae, entre os principais entraves que os pequenos empresários encontram para manter seu negócio vivo estão o excesso de burocracia, dificuldade de mão de obra qualificada, carga tributária elevada, altas taxas de juros e falta de segurança.
“A legislação tem apresentado sinais de melhora e caminha para soluções menos burocratizadas, mas ainda precisa avançar muito. Precisamos de condições que propiciem a atividade empreendedora de forma mais livre”, pontua.
Já para grandes empresas, a infraestrutura é o que mais pesa na hora de escolher o local de instalação do empreendimento, avalia o economista Eduardo Araújo. No caso do Espírito Santo, afirma, há planejamentos estratégicos e logísticos feitos há mais de 10 anos que já identificaram os gargalos e dificuldades do Estado, como a necessidade de melhorias na BR 101, duplicação da BR 262, mais ferrovias e instalação de portos.
“Desde 2006 isso foi identificado e não foi cumprido. Na época, a Futura fez uma projeção de que a economia do Estado, sob aquelas condições de investimento, estaria 50% maior que está hoje. Na minha avaliação, o que explica esse atraso é o Estado ter conseguido avançar muito pouco em infraestrutura”, diz.
A infraestrutura é muito importante, diz ele, por causa da vocação para a logística que o Estado tem. “É um estado pequeno com litoral extenso, que exporta commodities”. Nesse ponto, diz o economista, os desafios são buscar junto ao governo federal, mais ativamente, recursos para o Estado e avançar nas parcerias público-privadas.
O segundo ponto, diz Araújo, é o investimento em educação, ou seja, no capital humano.
Ter pessoas capacitadas é uma ponte para a inovação, para criar novas ideias. O que gera riqueza é o trabalho das pessoas.
Em relação ao ambiente regulatório, a burocracia da máquina pública precisa ser reduzida, aponta o economista. “A burocracia é muito elevada, fazendo com que a empresa precise ter vários profissionais para cumprir com obrigações acessórias tributárias. Isso reduz a produtividade da empresa”, observa.
ENTENDA COMO O ÍNDICE FOI CONSTRUÍDO
Para construir o Índice de Ambiente de Negócios, o Anuário utilizou um conjunto de 25 dados abertos e outros que precisaram ser levantados pela reportagem. Entre as informações estão PIB, PIB per capita, número de doutores e mestres no mercado de trabalho, acesso à internet, saneamento, crimes contra a vida e o patrimônio, proporção de grandes empresas em relação a pequenas e médias, número de empresas de tecnologia e criativas, abertura e fechamento de empresas, tempo para liberação de alvarás, depósitos em poupança e operações de crédito, volume de recursos públicos aplicados na saúde, percentual dessa despesa em relação à arrecadação, desempenho do ensino, qualificação da mão de obra, entre outros. As informações foram divididas em oito categorias e depois padronizadas. A partir de entrevista com empresários, foi aplicado o peso em cada item que compõe o índice: Infraestrutura (1), Segurança (1), Mercado (1), Acesso a Capital (1,5), Inovação (1,5), Capital Humano (2), Ambiente Regulatório (2) e Saúde (1). Os pontos foram somados, divididos por oito. Depois novamente divididos pelo PIB per capita.