Economia

Um único Estado e muitas realidades

Diversidade de vocações empresariais favorece a atração de investimentos de Norte a Sul, no Espírito Santo

Foto:Carlos Alberto Silva
Setor metalúrgico

Pequeno territorialmente, mas com grandes potencialidades. O Espírito Santo se diferencia do resto do país pela diversidade de vocações empresariais. O Estado é o segundo maior produtor brasileiro de petróleo, tem um respeitado complexo de pelotização de minério, um grande parque siderúrgico, várias indústrias de metalmecânica, negócios nos setores de rochas ornamentais e ainda consegue ser uma das mais importantes regiões agrícolas do Brasil.

Para além dos indicadores socioeconômicos e das condições de infraestrutura e regulação, um ponto-chave na atração de investimentos é o ambiente de negócios de cada município, que imprime as características predominantes. Por trás de um determinado perfil econômico, se estrutura também uma cadeia de fornecedores, com oferta de produtos e serviços para dar suporte à atividade principal.

Além da facilidade em encontrar insumos, a dinâmica econômica consolidada influencia a percepção se a localidade é promissora na área de negócios, explica o economista e presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-ES), Ricardo Paixão.

Se a cidade reúne vários negócios de determinada área, demonstra ser um local favorável à atividade, seja porque oferece incentivos para o setor; porque tem solo propício, pela facilidade para encontrar insumos, com indústrias de base instaladas; ou ainda por possuir grandes terrenos urbanos e recursos naturais que permitam a instalação de grandes indústrias.
Ricardo Paixão, presidente do Corecon

Outro fator de interferência é a disponibilidade de mão de obra. Paixão aponta que o potencial empresarial também é constituído por moradores capacitados profissionalmente para aquele segmento. “Em cidades que são grandes produtoras de café, se encontram pessoas qualificadas e experientes nessa atividade, além de empresas que dão suporte a produção. Isso também acontece na indústria e no setor de petróleo e gás, por exemplo”.

Nas cidades capixabas, essas vocações em linhas gerais são distribuídas por regiões. Segundo o secretário de Desenvolvimento do Espírito Santo, José Eduardo Azevedo, em cada uma há perfis predominantes que são potencializados por políticas públicas de esfera estadual, mas que precisam ser estimuladas em termos municipais.

As vocações já existem e agora precisam ser potencializadas, reforçando o empreendedorismo e a atração de investimentos. Tem que fazer melhor aquilo que já existe. Se for uma vocação para o agronegócio, por exemplo, tem que dar apoio financeiro, investir em pesquisa e facilitar o escoamento para consolidar a atividade e torná-la mais competitiva.
José Eduardo Azevedo

Embora a vocação das regiões seja importante, os municípios de Viana e Serra, são exemplos de cidades que se destacam na situação de mercado, possuem atualmente perfis mais diversificados, o que, segundo os especialistas, conta pontos para a independência da economia.

Produção de café
Produção de café
Foto: Marcelo Prest

Ambos possuem um forte apelo logístico – pela disponibilidade de espaços, por serem cortados por importantes rodovias, e pela proximidade com os portos de Vitória e de Tubarão – além do aeroporto. Um pacote atrativo para qualquer atividade.

É ideal que cada cidade tenha pelo menos um segmento econômico de destaque. Mas isso não é o limite, e, sim o mínimo. Perfeito seria se tivessem vários perfis, tendo uma sinergia e uma economia diversificada e independente.
Eduardo Araújo, economista

Para o secretário José Eduardo Azevedo, o grau de diversificação da economia dos municípios e do próprio Estado tem avançado, mas isso ainda é um desafio. “Nós não vamos ser bons em tudo, mas se tivermos uma boa carteira de arranjos produtivos, isso nos dá mais segurança e estabilidade”, frisa.

DIVISÕES

Olhando a vocação empresarial por regiões, a Região Metropolitana desponta como destaque no setor logístico por contar com dois portos, com o Aeroporto de Vitória, ser interligada ao modal ferroviário pela Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) e por ser cortada por duas importantes rodovias federais, a BR 101 e BR 262, além de vias estaduais.

O secretário estadual de Desenvolvimento aponta, ainda, atividades que são necessárias em função da densidade habitacional da região, que concentra mais da metade da população capixaba.

Há um destaque na Grande Vitória também para os setores de construção civil, serviços privados de educação e saúde, além dos próprios serviços públicos, como saneamento, atividades diretamente ligadas às grandes cidades e que demandam mão de obra mais qualificada, que, por sua vez, se concentra mais na região.
José Eduardo Azevedo

Nas cidades litorâneas fora da Região Metropolitana, ele ressalta os investimentos portuários e no setor naval, que movimentam uma cadeia de empresas nesses municípios. Já no Sul, chamam atenção os portos Central e de Itaoca, e ao Norte capixaba os projetos da Imetame, da Petrocity e a ampliação de Portocel, além do Estaleiro Jurong, em Aracruz.

Pedreira no Sul do Estado
Pedreira no Sul do Estado
Foto: Marcelo Prest

“São projetos que já mostram potencial para alavancar a área litorânea, gerando emprego nessas cidades e movimentando os negócios da região, além dos projetos da área de petróleo e gás, que também são uma característica fundamental da costa capixaba”, frisa Azevedo.

No Norte capixaba, em específico, outra potencialidade é a industrial. Isso em função dos 28 municípios do Espírito Santo que estão incluídos na região de atuação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), que conta com incentivos fiscais e linhas de financiamento especiais por parte do governo federal e do Banco do Nordeste.

Há ainda perfis pontuais de cada município. “Algumas cidades do Noroeste, Norte e Sul têm uma forte atuação no segmento de rochas ornamentais. No Caparaó, investimentos ligados ao agronegócio e ao agroturismo. Em cidades médias, plantas industriais e um forte comércio e serviço. Já nas pequenas cidades, um perfil mais voltado ao agronegócio, que pode estar focado na produção de leite, café, mamão ou pecuária”, diz Azevedo.

Foto:Genildo

OPORTUNIDADES COM POLOS EMPRESARIAIS

Um dos principais caminhos para levar desenvolvimento ao interior do Estado e fortalecer a vocação empresarial são os chamados polos empresariais. No Espírito Santo, há 19 áreas catalogadas pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento (Sedes), voltadas exclusivamente para indústrias ou de uso misto.

Desses polos, nove são municipais, sendo cinco localizados na Serra, dois em Vila Velha, um em Baixo Guandu e outro em Piúma. Outros quatro são estaduais, de responsabilidade da Superintendência de Polarização de Projetos Industriais (Suppin), ligada à Sedes. Eles ficam em São Domingos do Norte, Vila Pavão, São Mateus e Conceição da Barra.

Há também os polos privados, que começaram a se instalar no Estado. Hoje são seis já implantados, segundo a Sedes, sendo três na Serra (SerraLog, Polo Piracema e Alphaville Jacuhy – que é comercial e residencial), em Linhares (VTO Linhares), Cariacica (Parque Leste Oeste), e Colatina (Centro Empresarial Princesa do Norte).

“O polo é uma infraestrutura necessária para que haja atratividade. Uma cidade com polo estruturado, tem a faca e queijo na mão para instalar novas empresas, primeiro pela facilidade de implantação rápida, além de ser uma área adequada do ponto de vista urbanístico e ambiental”, comenta o secretário estadual de Desenvolvimento, José Eduardo Azevedo.

Há ainda outras sete cidades do interior capixaba com projetos avançados para a implantação de polos. Alfredo Chaves, Anchieta, Atílio Vivácqua, Fundão, Guarapari, Itapemirim e Mimoso do Sul já entraram com estudos de viabilidade para criação de áreas públicas.

Para Azevedo, no entanto, o caminho mais viável hoje são os polos privados. “O setor público infelizmente não consegue mais fazer isso, então a gente apoia e incentiva os polos privados, através de linhas de financiamento, por entender que, ter uma infraestrutura dessas pronta para receber novos investimentos, é dar mais competitividade”.

Foto:Genildo

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