Economia

Economia capixaba tenta reagir às pressões

Confirmação das previsões de crescimento de 1,8% do PIB capixaba para este ano depende de fatores como a reforma da Previdência e a reação do setor de minério após efeito Brumadinho

Foto:Gildo Loyola/Arquivo
Exportação de minério pelo Porto de Tubarão, no Estado, foi afetada após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, Minas Gerais

As propostas que levarão o Espírito Santo a um novo patamar vão ter um tempo de maturação para começar a dar resultados. Economista do Santander, Lucas Nobrega diz que neste ano o Estado ainda vai ter um avanço lento, mas, mesmo assim, melhor do que o do país. Aqui a avaliação preliminar aponta para um crescimento econômico de 1,8%. “O que motiva o número um pouco mais forte do Espírito Santo é o fato de a taxa de desemprego no Estado ser melhor do que a média brasileira”, justifica Nobrega.

O indicador, referente ao primeiro trimestre de 2019, foi de 12,1% e, embora ainda seja elevado na avaliação do economista, é 0,4 ponto percentual mais baixo que o nacional.

“Na composição do Produto Interno Bruto (PIB) do Espírito Santo, 70% é de responsabilidade do setor de serviços, extremamente atrelado tanto a emprego quanto a renda e crédito. O fato de a taxa de desemprego estar melhor sugere que o setor também deve andar um pouco melhor, contribuindo para o resultado”, analisa.

Já o economista Eduardo Araújo projeta uma variação para o PIB de 0,5%, em uma conjuntura negativa, e de 2%, em uma positiva. Para ele, tudo depende de como vai caminhar a economia brasileira. “O cenário nacional apresenta certa instabilidade. A gente tem tido ruídos em relação à condução da política pública do governo federal e assiste, na prática, a uma queda das expectativas do setor produtivo. Se quando olha para o futuro não enxerga horizonte muito claro e essa incerteza começa a se ampliar, o empresário pisa no freio e deixa de fazer investimentos”, pontua.

RECUPERAÇÃO

Apesar das projeções positivas, o Estado começou o ano com baixa atividade econômica. O PIB capixaba do primeiro trimestre de 2019 recuou 1,3% na comparação com o último de 2018. O resultado negativo no período se deve principalmente ao mau desempenho da indústria geral (-10,1%) e do comércio varejista (-0,3%). Esse já é o terceiro trimestre consecutivo em que o indicador é negativo, o que configura recessão técnica.

Um dos motivos da queda do PIB é o efeito Brumadinho, com o rompimento da barragem da Vale, que levou a uma redução significativa na exportação de minério pelo Porto de Tubarão, no Estado. Houve ainda retração na produção de pelotas por causa da paralisação por cinco dias de quatro usinas da Vale, em fevereiro, após uma ação movida pela Prefeitura de Vitória que interditou tanques de armazenamento de água do parque industrial, além de paradas programadas de duas plantas de pelotização.

O presidente do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), Luiz Paulo Vellozo Lucas, frisa que a retomada da economia capixaba está bastante atrelada à conjuntura nacional. “A primeira coisa a se considerar é em que contexto nacional vamos navegar. Em um cenário de melhora da economia, há uma recuperação lenta e cíclica porque vem depois da recessão e tem capacidade ociosa e crescimento vegetativo. Não é um crescimento puxado pelos investimentos. Depois que a recuperação cíclica acaba, se houver ambiente, são feitos investimentos”, detalha.

Para ele, o país tem reservas, não possui problema na balança de pagamentos e apresenta superávit na balança comercial. O atraso está na área de logística e infraestrutura, que, somado a indicadores sociais ruins, como o de violência, afasta investidores. A crise política, em sua opinião, foi o que de certo modo desencadeou a recessão e ainda não é página virada. “Continua de certa maneira assombrando o futuro, e existem incertezas que paralisam os investimentos. Os fluxos de investimento direto estrangeiro continuam altíssimos (mais de US$ 60 bilhões por ano) e, por isso, o governo fecha o balanço de pagamentos com tranquilidade. Mas não consegue se realizar no hardware da economia (infraestrutura).”

O presidente do IJSN lembra que, se o Brasil for razoavelmente bem, o Espírito Santo vai muito bem. Ele considera a reforma da Previdência imprescindível, mas o equilíbrio fiscal, bem como o aperfeiçoamento de questões regulatórias, é fundamental.

O cientista social Joilton Sergio Rosa está confiante na recuperação do país e nos impactos positivos para o Estado. Sua avaliação é baseada em um movimento histórico da economia, que, após um ciclo negativo, apresenta tendência de melhora. Para ele, as mudanças previdenciárias devem ser seguidas de outras reformas. “Acredito que nenhum gestor coloca em dúvida a necessidade da mudança na Previdência, mas não se pode colocar todo o peso em cima dela. Há necessidade de uma série de outras reformas, como a tributária, com reflexo mais imediato”, argumenta.


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