Gigante da celulose abre caminho para fábrica de papel
União da Fibria com a Suzano terá como resultado para o Espírito Santo diversificação nos negócios do setor extrativo, ampliando a chance de o Estado desenvolver novos produtos
A indústria de celulose no Espírito Santo é referência para todo o mundo, e a fusão de duas gigantes do setor pode trazer novas oportunidades para o Espírito Santo. A união entre a Fibria e a Suzano, anunciada em março de 2018, só foi consolidada em 14 de janeiro deste ano.
A companhia nasceu líder global na produção de celulose de eucalipto. O acordo foi submetido à aprovação de todos os órgãos reguladores nacionais e internacionais e, na última etapa a Suzano Papel e Celulose efetuou o pagamento de R$ 27,8 bilhões aos acionistas da Fibria, que se tornaram titulares de papéis de participação da Suzano, nova marca da empresa.
Com a fusão, vem a expectativa de aportes financeiros e de geração de empregos no Estado. Uma das possibilidades é a implantação de uma fábrica de papel. Oficialmente a empresa diz que a planta capixaba dedica-se somente à produção de celulose, que é vendida para outras companhias fabricantes de papel – em sua maioria no exterior –, e que não há previsão de tal investimento a ser feito no Estado. Porém, em maio, o gerente de Relações Governamentais e Comunicação da Suzano, Pedro Torres, deixou aberta tal possibilidade.
“A fusão da Fibria com a Suzano traz mais uma possibilidade que não existia antes aqui, que é o negócio papel. Uma das vantagens é que temos 100% da matéria-prima, diferentemente dos nossos concorrentes, que precisam comprar no mercado”, ressaltou Torres em sua palestra durante o lançamento da Mec Show 2019 – Feira da Metalmecânica + Inovação Industrial e da Expo Construções, conforme apresentou a colunista Beatriz Seixas, de A Gazeta.
A Suzano anunciou, recentemente, para todo o Brasil o investimento de R$ 6,4 bilhões ainda em 2019, em modernização e expansão, estrutura logística, terras e manutenção operacional. Tal aplicação financeira é primordial, segundo comenta o gerente de Petróleo e Gás da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Durval Vieira de Freitas, que também atua em indústrias de base e indústrias em geral.
“A Fibria/Suzano é muito importante para o Espírito Santo. Ela gera emprego tanto na fábrica quanto na base florestal. Porém, não temos base florestal aqui no Estado para ampliar a produção, o que faz com que a empresa tenha de trazer o eucalipto de locais mais distantes. Com isso, o custo de produção se eleva. Portanto, os investimentos, sobretudo na parte logística, são importantes”, avalia ele.
Um dos pontos-chave da empresa na questão logística é o Portocel, único porto brasileiro especializado na movimentação de celulose. A planta tem capacidade para embarcar 7,5 milhões de toneladas anuais, com produtividade média de 24 mil toneladas-dia por navio. Toda a celulose produzida em Aracruz é levada de caminhão até o Portocel, em um trajeto 2,5 km.
Somente em Aracruz, a Fibria/Suzano apresenta capacidade para produzir 2,3 milhões de toneladas de celulose branqueada por ano em três linhas de operação (fábricas A, B e C). A empresa não cita, porém, a possibilidade de expansão desse fornecimento. “A celulose é uma commodity e, como tal, segue as variações do mercado. A empresa já é a maior produtora mundial de celulose, com capacidade instalada de 10,9 milhões de toneladas/ano em suas sete fábricas. A fábrica daqui é altamente produtiva e oferece um produto muito bom. A celulose do Espírito Santo se tornou referência para o mundo, e temos pesquisas muito bem desenvolvidas em Aracruz. Acredito que a empresa vá continuar muito dentro dessa linha”, ressalta o gerente da Findes.
Um dos diferenciais da empresa é a produção de celulose em fibra curta, proveniente do eucalipto. A fibra, combinada com outros insumos adicionados ao processo, confere diferentes características à celulose apreciadas pelo mercado. Itens de higiene, por exemplo, requerem maciez, resistência e capacidade de absorção; e papéis para escrever e imprimir demandam força e opacidade.
No mercado há outro tipo de celulose, classificado como de fibra longa, proveniente de árvores como os pinheiros. Essa versão confere ao produto final características diferentes e é empregada, principalmente, na fabricação de papéis de embalagem, que precisam ser vigorosos em grau ainda mais elevado.
O desafio da Suzano no ES é ampliar a base florestal para elevar sua produção
Hoje, grande parte dos tipos de papel utiliza uma mistura de fibra longa e fibra curta em sua composição, que pode variar de acordo com os requisitos desejados para produto final e a relação de preços entre os dois padrões.
“A nossa especialidade é a celulose de fibra curta, que é um produto de valor muito grande para o mercado internacional. É a menina dos olhos. É o tipo de celulose mais nobre e que vai fazer o papel de impressão, o papel higiênico e outros especiais. É um produto com grande valor agregado ”, destaca o mestre em Planejamento e Desenvolvimento e coordenador do curso de Gestão do Agronegócio da Universidade Vila Velha (UVV), Wallace Millis.
Segundo a Secretaria de Estado de Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), a celulose foi o principal produto do agronegócio exportado em 2018. Foram US$ 920,25 milhões em vendas, o que equivale a 10% de todos os embarques do Espírito Santo. Os principais compradores são os países da Ásia e da Europa e os Estados Unidos.