Inovação

Semente da inovação no setor público

Sessões de cinema e debates com especialistas são usados para capacitar servidores a desenvolver competências e ter um perfil mais inovador

Foto:Pixabay

A inovação, que aos poucos vai sendo incorporada pelas empresas, também precisa fazer parte da realidade do setor público, ajudando a aprimorar processos e modelos de gestão, para melhorar os serviços entregues à população.

“A inovação é um grande desafio que a gente precisa enfrentar, mas não é uma coisa pontual. É uma forma de se comportar do gestor público e das lideranças, de permanentemente questionar a forma de fazer as coisas, de se conectar com o que acontece no mundo, de não ficar voltado só para ideias locais”, pontua Marília Câmara de Assis, subsecretária de Inovação na Gestão da Secretaria de Estado de Gestão e Recursos Humanos (Seger).

Para Marília, o Brasil tem uma realidade muito atrasada em comparação a outros países, e nem precisa ir muito longe. Ela conta que o Chile e a Argentina, vizinhos sul-americanos, apresentam ideias modernas na gestão pública. Mas a subsecretária defende que, o que é bom, pode servir de inspiração.

A gente prega que as boas ideias sejam copiadas porque já passaram por testes de implantação e revisão e são formas mais adiantadas de pensar. Basta fazer a adequação para a realidade local. A gente estruturou o Laboratório de Inovação (Labges), tendência que vem se consolidando no mundo.
Marília Câmara de Assis, que também é coordenadora do laboratório

O Labges tem duas frentes de ação: a cultura da inovação e as soluções inovadoras. Na primeira frente, o que se entende é que, antes de propor soluções, é preciso ter a cultura, a ambiência que viabilize esse tipo de comportamento.

Marília observa que não é possível ir adiante se houver uma hierarquia engessada e gestores que não estimulem o questionamento; e que o setor público, de maneira geral, não é um ambiente marcado por características de desenvolvimento e promoção da cultura da inovação.

Para mudar esse cenário, entre as atividades do Labges, estão sendo promovidas sessões de cinema, meetups (encontros informais com especialistas) que já bordou temas como ideação e internet das coisas, entre outras ações para capacitar os servidores a desenvolver competências e ter um perfil mais inovador. Isso tudo porque, segundo a subsecretária, não adianta cobrar se não houver a qualificação.

“Inclusive, na Seger, estamos com uma iniciativa inédita: 100% dos servidores vão passar por capacitação. Desde a pessoa que trabalha no protocolo até a secretária de Estado. É um choque da organização para mudança do mindset”, ressalta Marília, acrescentando que os 180 servidores foram divididos em seis turmas, e o processo já está em fase final.

Além da Seger, servidores de outros órgãos do governo também terão a oportunidade de se capacitar. Existe uma turma-piloto, formada por pessoas que já apresentavam certa afinidade com o tema inovação, e que poderiam contribuir com críticas e sugestões ao projeto, dando feedback sobre o que está sendo realizado e a trilha a seguir. A partir de agosto, novas turmas serão abertas para demanda espontânea e o primeiro curso será de design thinking. Alguns órgãos e secretarias também estão pedindo capacitações específicas para seu grupo de funcionários.

A gente vê que é um movimento em onda, é novo, é recente, mas vem tendo um impacto bem interessante.

Além da frente para criar a cultura de inovação, a outra é a de soluções inovadoras. Uma que já faz parte da estrutura da Seger é o Prêmio Inoves, que neste ano surge reformulado, com o apoio da academia e do setor produtivo. Marília explica que, até 2017, o prêmio valorizava mais o servidor do que promovia a inovação. A partir de agora, o funcionário continua sendo valorizado, mas não serão premiados apenas os projetos de resultados, mas também ideias e projetos em desenvolvimento.

“Nossa intenção é reconhecer as boas ideias. Haverá um prêmio de R$ 40 mil, que será repassado pela Fapes (Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo), o que facilita bastante a execução do recurso e o Labges vai funcionar como uma espécie de incubadora desses projetos.”

Marília ressalta que não há pretensão de o laboratório resolver tudo, mas o desejo é que ele tenha uma capacidade de articulação e de atração de pessoas com cabeças abertas para conectá-las e fazer com que as soluções aconteçam. “Não queremos centralizar, nem ser os donos da inovação. A ideia é fomentar, provocar e apresentar possibilidades de caminhos para uma nova gestão.”

SINAPSE

Nessa estrada há mais tempo, a Fapes também tem em seu DNA a promoção de ideias inovadoras. Uma das ações mais significativas recentemente foi a criação da Sinapse da Inovação, cujo objetivo é “estimular o empreendedorismo por meio de capacitações para o desenvolvimento de produtos (bens e/ou serviços) ou de processos inovadores, transformando ideias inovadoras em empreendimentos que incorporem novas tecnologias aos setores econômicos relevantes da economia capixaba”.

O diretor-presidente da Fapes, José Antonio Bof Buffon, ressaltou que o programa visava a capturar ideias. “O efeito direto dessa ação é que vamos apoiar 46 empresas. Isso é intangível”, avalia.

Buffon diz que o papel da Fapes é ser um facilitador e indutor para formação desse ambiente de inovação, mas que esse não é trabalho de apenas um ente. “Estamos trabalhando por uma atuação mais permanente e concatenada. Procuramos operar na interface com os entes que atuam na área, como as universidades, as empresas e vamos promovendo as chamadas e os editais.”

Para o programa Sinapse da Inovação foram destinados pouco mais de R$ 2 milhões, mas não é o único edital. Também houve chamadas para apoio a incubadoras e empresas juniores. Uma novidade deste ano é o edital para apoio financeiro aos Núcleos de Inovação Tecnológica no Espírito Santo (NIT), que promovem e estimulam a transferência tecnológica ao setor produtivo para melhorar a competitividade.

PESQUISA

Na avaliação de Ana Carolina Giuberti, diretora de estudos e pesquisas do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), o ponto principal da inovação é está ligado à pesquisa. É preciso estudar, seja para ter um novo produto, seja para implantar um novo processo. “Pode ser nas universidades, em parceria com o setor produtivo, mas a pesquisa precisa ser feita, incentivada. E tem que estar conectada às empresas para que, de fato, a inovação possa resultar em crescimento econômico”, pontua.

Ana Carolina observa que nem sempre os resultados serão imediatos, mas a pesquisa fundamenta a base da inovação. 


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